domingo, 27 de abril de 2014

Peu e Michel, planos de vôo!

         A poucos meses de ser mamãe de novo, me sinto como se tivesse passando por isso a primeira vez.
Mas na verdade, acho que é mesmo a primeira vez, serei única para o Michel, assim como sou única para o Peu. E um filho nunca é igual ao outro. No início tive medo que não fosse possível amar outro filho como já amo Pedro, sei que Michel ainda não está aqui para comprovar isso, mas mesmo sem nunca tê-lo contado ou visto, já o amo tanto e planejo toda uma vida ao lado dele, toda uma vida como m
ãe dele. Só uma mãe sabe o amor que cresce dentro de si durante uma gravidez. E quando nasce, nem precisamos falar...  Sei que será diferente as experiências vividas ao lado de Pedro, mas muitas coisas ser
ão iguais, a dedicação, o amor, a doação, a renúncia. Me sinto como mãe de primeira viagem, apenas com mais experiência, dá para entender? Tenho os mesmos medos, as mesmas dúvidas, a ansiedade, a mesma e grande expectativa de ter um filho. E ao mesmo tempo, tudo é novo para mim. A cada mexida dele, cada semana que se aproxima, cada consulta ao pré-natal o amor e laço que temos só aumenta.
Quando Peu chegou em minha vida, foi tudo como um furacão, mistos de sentimentos, vida nova, recém casada, recém chegada aqui na suíça, não falava uma gota de alemão.
Sabe aquele texto “Bem-vinda à Holanda”? Me senti exatamente como descrito, posso citar aqui um trecho mais marcante para mim.
“...
Após meses de ansiosa expectativa, finalmente chega o dia. Você arruma suas malas e vai embora. Várias horas depois, o avião aterrissa. A comissária de bordo chega e diz: "Bem-vindos à Holanda". 
Holanda?!? Você diz, Como assim, Holanda? Eu escolhi a Itália. Toda a minha vida eu tenho sonhado em ir para a Itália." 
Eu poderia até te dizer que dessa vez estou preparada para aterrissar em qualquer destino, mas não seria verdade. Da mesma forma que preparei minha viagem à Itália, assim como passei meses de expectativa para chegar até lá, cá estou novamente, com minha viagem planejada, mesmo sabendo que poderei sim, aterrissar em outro destino e que isso mudaria todo roteiro. A possibilidade de mudança de planos ainda me assusta. Mas, se isso acontecesse de novo, saberia melhor como me adaptar ao novo destino, saberia que é apenas um lugar diferente.
“...Mas todo mundo que você conhece está ocupado indo e voltando da Itália, e todos se gabam de quão maravilhosos foram os momentos que eles tiveram lá. E toda sua vida você vai dizer "Sim, era para onde eu deveria ter ido. É o que eu tinha planejado." 
E a dor que isso causa não irá embora nunca, jamais, porque a perda desse sonho é uma perda extremamente significativa. 
No entanto, se você passar sua vida de luto pelo fato de não ter chegado à Itália, você nunca estará livre para aproveitar as coisas muito especiais e absolutamente fascinantes da Holanda.

Foi o que vivi com Peu, me libertei das lembranças sobre a Itália e me entreguei de cabeça as belezas da Holanda, mas não foi fácil. Acho que por isso tenho medo das mudanças de planos de novo. A verdade é que acredito que é impossível não criar expectativas diante de um nascimento de um filho, todos pais desejam que seus filhos nasçam saudáveis e “normais”. Quando eu digo isso não quero dizer que Pedro é uma criança doente e anormal, mas tem todo seu comprometimento devido a síndrome e má formações por consequencia da mesma. Sei que há a possibilidade dele precisar de apoio no futuro e talvez ainda mais por isso desejo que ele tenha um irmão para poder apoiá-lo em minha ausência. É amor, é medo, é cuidado... Porém, sei que não devo colocar responsabilidade alguma nas costas do Michel para que ele “precise” apoiar seu irmão no futuro, porque pretendo trilhar um caminho de independência e realidade para o Peu. Onde ele consiga caminhar com suas próprias pernas e possa ser feliz no que escolher fazer. Mas, sei que ele terá uma pessoa para compartilhar sua vida, suas vitórias e suas derrotas. Ter irmãos é saber que nunca estaremos só. Sei que o laço de amor e de amizade de Michel e Peu serão fortalecidos em convivência e isso nenhuma diferença conseguirá atrapalhar. Então é isso, que Deus abençoe meus filhos, que não importa se na Holanda ou Itália, que ao fim de tudo possamos ter certeza que tivemos uma experiência de viagem incrível e única. E que mesmo sem planejar, conseguimos aproveitar ao máximo cada experiência vivida.
Sabe, as expectativas sempre vão existir, ao menos dentro de mim, mas hoje sei que o amor é capaz de superar qualquer mudança de planos de vôo e isso de certa forma me dá forças para acreditar que na Itália ou Holanda, eu amarei meu filho acima de tudo, assim como amo Peu. E disso eu tenho plena convicção. Aliás, essa é a única certeza que tenho. Só me resta pedir a Deus que nos abençoe e nos leve ao destino que ele nos reservou.